As Memórias De Um Povo

Lenda da Mina do Bode

Reza a história que há muitos séculos atrás, entre a Idade do Bronze e a Romanização, a região de Lafões já era habitada. É durante esta época que num dos mais importantes e imponentes castrejos (Castro da Cárcoda, Carvalhais, São Pedro do Sul) desta região se desenrola esta história.

Esta população no seu apogeu à data mencionada já tinham um certo avanço científico e tecnológico. Tinham grandes conhecimentos de geologia e mineração, temos como referência as Termas de São Pedro do Sul que datam à mesma Idade. Sendo que estes povos já tinham também a capacidade para transformar o metal.

É durante este período que estas populações para fugirem aos roubos e pilhagens, escondiam os seus bens mais valiosos em grutas ou minas feitas por eles, onde só eles sabiam a sua localização. Passados várias centenas de anos, e tal mina estar mencionada em alguns manuscritos, um deles o de São Cipriano, mencionando como dentro dessa mina existia um grande tesouro. Mas para entrar na mina era necessário fazer certas rezas do livro. Rezas essas que só poderiam ser feitas por um Padre, pois só assim seria possível abrir a misteriosa porta.

Um pastor após ter escutado tantas vezes, e durante vários anos, a sua família falar da existência de uma mina, que estava cheia de ouro e outros objetos valiosos decidiu procura a mesma. Sendo ele um bom conhecedor de toda a serra, por nela guardar as cabras e as ovelhas, desconfiou onde poderia ser a sua localização e foi falar com o Sr Padre. Combinaram um para confirmar a existência e tentar entrar na misteriosa mina.

Deram com a entrada da mina. Tudo parecia correr às mil maravilhas, a porta abriu após as rezas do Padre e o pastor não esteve com mais demoras e entrou sem olhar para trás, tirando cá para fora as peças do tesouro mais valiosas que lá se encontravam: grades, cambões, enxadas, e mais…….


Ao encontrar um cálice de ouro e diamantes e ao passar o mesmo ao padre este, encantado com a preciosa peça não se consegui conter e gritou:
“-Alto! Isto é para mim!”
Foi quanto bastou para a porta se fechar, e deixar lá dentro o pastor. No escuro ficou apavorado e cheio de medo e desatou a berrar para que o Padre abrisse de novo a porta. Com tanto barulho dentro da mina, o bode, que era o guarda da mesma acordou e veio desempenhar o seu papel, guardar e defender o tesouro. Quando o bode se depara com tal aparato vai direito ao pastor e, diabolicamente, deu-lhe tantas marradas que os gritos do pastor entoaram ao longo da serra.
Apavorado com a fúria do bode o pobre pastor prometeu entregar tudo quanto tinha tirado de dentro da mina. Surpreendentemente a porta da mina abriu-se e o pastor saiu. Uma vez livre de tal situação o pastor e o padre, que tinha ouvido os berros deste dentro da mina, devolveram todo o que tinham tirado e voltaram para casa. Consta que, todas as noites, à meia-noite, se ascende e apaga na mina uma luz.
Esta é a lenda da mina do Bode. Lenda esta contada pelos nossos antepassados e que foi passando de geração em geração até aos dias de hoje. É contado também por eles que a entrada da mina se localizava entre o Iteiro Gordo e o Praio dos Sinos. Entrada essa que nunca foi encontrada até aos dias de hoje…

Lenda da panela de oiro

Uma das lendas que povoam o imaginário da população é “a lenda da panela de oiro” que advoga a vivência de mouros nesta freguesia. Esta conta-nos que uma mulher foi apanhar estrume no Cudessal (entre Candal e Póvoa) para os seus animais. Como estava calor, pôs-se à sombra duma pedra enorme. Casualmente começou a furar a pedra com a sua foice e como que por actos mágicos surgiu-lhe uma tampa de uma panela. Debaixo dessa tampa havia uma panela escavada na pedra, contendo muito oiro. A mulher recolheu todo o oiro e dirigiu-se para casa. Pelo caminho escutou uma voz que lhe disse para não olhar para trás. A mulher não acatou com a recomendação e acabou por falecer ao chegar a casa. A veracidade da lenda não pode ser confirmada, no entanto a panela escavada na pedra existe mesmo.